Estamos em busca do rejuvenescimento,
mas isso é cientificamente possível?
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Aprendemos quando crianças que a morte é inevitável, mas será que isso não se aplica apenas ao atual estado de nossa ciência? Também era impossível voar alguns séculos atrás, até inventarem o avião, não é mesmo? Assim, apesar de ainda parecer coisa de ficção científica, muitos cientistas do mundo todo estão pesquisando como desenvolver terapias de rejuvenescimento para, além de dar às pessoas vidas longas e com um corpo mais jovem, curar as doenças relacionadas ao envelhecimento.
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E o que são as doenças relacionadas ao envelhecimento?
São as doenças cuja incidência aumenta com a idade, e não só isso; seu maior fator de risco também é justamente a idade. Exemplos de doenças relaciondas ao envelhecimento são:
doenças cardiovasculares (infarto, derrame, etc.)
câncer
diabetes tipo 2
mal de Alzheimer
mal de Parkinson
osteoporose
E o que todas essas doenças têm em comum? Além de ocorrer muito mais frequentemente nos idosos, essas doenças muito dificilmente são curadas — geralmente, um controle crônico é uma meta mais realista para elas, até a pessoa morrer por alguma outra dessas doenças do envelhecimento.
É por isso que muitos cientistas estão tentando desenvolver terapias de rejuvenescimento, para curar as doenças relacionadas ao envelhecimento através do rejuvenescimento do corpo todo. Além disso, terapias de rejuvenescimento podem evitar que essas doenças surjam, para que sequer precisem ser curadas.
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Quais são as terapias atualmente sendo estudadas para o rejuvenescimento?
A ciência do rejuvenescimento ao redor do mundo está há décadas procurando alguma terapia que possa ser eficiente para reverter o envelhecimento, e muitas possibilidades já foram tentadas, sendo importantes expoentes a telomerase, os senolíticos, a reprogramação celular parcial e as vesículas extracelulares pequenas jovens. Além disso, a combinação de dieta e exercício é a única estratégia que comprovadamente reduz consideravelmente em humanos os efeitos do envelhecimento, sem, porém, rejuvenescer o corpo a ponto de fazer algo mais do que dar uma ou duas décadas a mais de vida. Veja abaixo mais detalhes sobre as quatro terapias mencionadas acima.
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Com o passar dos anos, as pontas dos cromossomos, chamadas telômeros, se encurtam. Os telômeros têm a função de proteger todo o genoma e seu encurtamento está relacionado à instabilidade do genoma, o esgotamento das células-tronco e a disfunção mitocondrial. Porém, a ativação nas células da enzima telomerase leva ao alongamento dos telômeros, revertendo este efeito do envelhecimento.
Testes em camundongos alcançaram resultados importantes em um experimento publicado em 2024, onde observou-se a redução na senescência celular, a redução dos níveis de citoquinas inflamatórias e da inflamação do cérebro, o aumento da neurogênese adulta e a melhora do desempenho cognitivo nos animais velhos tratados.
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O acúmulo de células senescentes é outra consequência do envelhecimento. Apesar de serem importantes no processo de cicatrização, o acúmulo com a idade dessas células aumenta a inflamação no corpo e prejudica a eficiência dos tecidos, além de induzir a incidência de câncer. De modo geral, sua eliminação seletiva, segundo muitos cientistas, melhoraria a saúde humana e reverteria em parte o envelhecimento.
Em estudos recentes em camundongos, senolíticos melhoraram o desempenho físico dos animais, além de aumentar o tempo de vida em 36%. Além disso, demonstrou-se que os senolíticos trazem benefícios nesses animais para a saúde vascular, para o tratamento da diabetes tipo 2, para o envelhecimento da pele e para o tratamento da artrose.
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Por volta do ano de 2014, a ciência do rejuvenescimento fez uma das suas descobertas mais importantes das últimas décadas: o rejuvenescimento de células. Isso foi feito através da ativação de 4 genes em células velhas, os genes OSKM, sendo cada uma dessas letras uma referência às iniciais de cada um desses genes. A ativação desses genes por um tempo limitado leva a uma reprogramação das células velhas, que voltam a se comportar como células jovens, sem perder sua especificidade funcional.
Além da demonstração do rejuvenescimento em células in vitro, a reprogramação celular parcial, através do uso de animais transgênicos ou vetores virais, levou a importantes resultados na área do rejuvenescimento de organismos. Por exemplo, camundongos idosos cegos que receberam um tratamento de reprogramação celular parcial no nervo óptico tiveram sua visão restaurada. Além disso, observou-se que ratos velhos que receberam vetores virais que induziam a ativação dos genes OSKM no cérebro tiveram melhora na capacidade cognitiva, na memória espacial e uma redução na idade epigenética.
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Em meados dos anos 2000, a ciência do rejuvenescimento voltou a estudar um fenômeno científico descoberto na década de 1950: o rejuvenescimento de ratos velhos através da transfusão de sangue proveniente de ratos jovens. Diversos estudos realizados desde então indicam que esse fenômeno é causado pelas vesículas extracelulares pequenas, que são pequenos pacotes com menos de 200 nanômetros excretados pelas células, que carregam diferentes tipos de sinalizadores pelo sangue para todo o corpo.
Em um estudo recente, por exemplo, vesículas extracelulares pequenas extraídas de camundongos jovens, quando injetadas em animais velhos, prolongaram o tempo de vida dos animais, melhoraram o metabolismo energético mitocondrial, mitigaram os fenótipos senescentes e amenizaram o declínio funcional associado com o envelhecimento de diversos tecidos, incluindo o hipocampo, os músculos, o coração, os testículos e os ossos.
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Qual é a linha de pesquisa mais bem sucedida?
Dentre todas as estratégias analisadas pelo ICR, as vesículas extracelulares pequenas jovens é a que consideramos mais promissora, não só por causa do estudo citado acima, mas principalmente por causa de outro estudo, publicado em outubro de 2023 na revista científica Geroscience, em que cientistas conseguiram rejuvenescer ratos velhos segundo uma série de parâmetros, incluindo memória, força de agarre, marcadores sanguíneos, células senescentes e, principalmente, a idade epigenética, que foi revertida em 67%. A idade epigenética é uma forma de medir a idade biológica de um organismo a partir do estado de metilação do DNA, e atualmente é um dos marcadores mais importantes no estudo do envelhecimento.
A lógica desta terapia tem como base a teoria científica de que o envelhecimento é controlado por sinalizadores de idade, que nos mamíferos, por exemplo, seriam transportados e distribuídos às células pela corrente sanguínea. Essa teoria está detalhadamente explicada no livro A ilusão do conhecimento, de Harold Katcher. Sendo assim, o ICR está realizando experimentos para averiguar se os resultados do artigo publicado na Geroscience podem ser reproduzidos, e todas as etapas desse processo estão sendo realizadas com completa transparência. Inclusive, se tivermos sucesso, temos um plano para continuar o processo até o teste em humanos.